quinta-feira, 28 de março de 2013

Fracturas da tíbia e do perónio


Dos dois ossos da perna, a tíbia é o osso que sustenta o peso do corpo, fazendo parte da articulação do joelho e do tornozelo, enquanto o perónio apenas faz parte da articulação do tornozelo. No entanto, as fracturas da tíbia estão muitas vezes associadas a fracturas do perónio (geralmente fracturas instáveis, resultado de traumatismo directo). Como a pele e o tecido subcutâneo sobre a tíbia são muito finos essas fracturas são muito frequentemente expostas, mas mesmo nas fracturas fechadas, os tecidos moles podem estar comprometidos.
As fracturas da tíbia nos adultos são geralmente causadas por impacto directo ou rotação sobre o eixo da tíbia. As fracturas combinadas da tíbia e do perónio podem ser causadas por um movimento de torção violenta, e geralmente ocorrem em desportos de contacto. De entre as fracturas destes dois ossos as mais frequentes são:
Fracturas de stress da tíbia: geralmente está a associada a um fenómeno comummente chamado de canelite, característico de alguns desportos, como a corrida, e que ocorre devido ao excesso de carga sobre o osso, provocado por movimentos repetitivos. Muitas vezes estão associadas a um aumento na intensidade de treino nas semanas ou meses que antecederam a lesão. Nestas lesões a actividade física que provocou a lesão deve ser evitada durante 8-10 semanas.
Fracturas da tuberosidade tibial: ocorrem na face anterior da tíbia, logo abaixo do joelho, na inserção do tendão rotuliano. São particularmente comuns em adolescentes e mulheres, principalmente os que praticam desportos que envolvem saltos, como o basquetebol, a ginástica e o futebol.
Fracturas do prato tibial: ocorrem dentro da articulação do joelho, na superfície articular da tíbia, onde se inserem os meniscos. Uma queda em altura pode causar uma fractura por compressão do prato tibial. Também podem ser causadas por pequenos traumatismos, em populações de risco, como os idosos ou pessoas com osteoporose.
Fracturas da eminência intercondilar: ocorrem dentro da articulação do joelho, na proeminência óssea da tíbia onde se inserem os ligamentos cruzados. São mais frequentes em crianças com idade entre os 8-14 anos, podem ser causadas por um impacto directo na tíbia com o joelho flexionado, por exemplo, cair ao andar de bicicleta. Também podem ser causadas por hiperextensão com varo ou valgo, por exemplo, em acidentes de viação ou em lesões desportivas.
Fractura de Toddler: fracturas estáveis da diáfise da tíbia, ocorrem em crianças menores de 7 anos, muitas vezes devido a um trauma mínimo, pelo que podem não ser visíveis no primeiro raio-X. Embora sejam raras e de difícil diagnóstico, devem fazer parte da avaliação médica, quando há uma história de traumatismo e a criança se apresenta a coxear e sem conseguir suportar o peso do corpo sobre a perna.
Fracturas da diáfise do perónio: ocorrem isoladamente ou em combinação com uma fractura da tíbia, como resultado de um impacto directo ou por movimentos de torção. Quando a fractura ocorre próximo ao joelho existe o risco de lesão do nervo peronial comum, provocando muitas vezes pé pendente e diminuição da sensibilidade no dorso e na face lateral do pé.
Fractura de stress do perónio: são relativamente comuns, e normalmente afectam a extremidade proximal do perónio. Características de alguns desportos, como a corrida, ocorrem devido ao excesso de carga sobre o osso, provocado por movimentos repetitivos. Nestas lesões a actividade física que provocou a lesão deve ser evitada durante 8-10 semanas.
Fractura de Maisonneuve: ocorre na extremidade proximal do perónio e é provocada por forças compressivas resultantes de uma lesão no tornozelo (fractura do maléolo medial combinada com ruptura da sindesmose tibiofibular distal).


Sinais e sintomas/ Diagnóstico

  • Por vezes o paciente ouve o ruído da fractura no momento da lesão
  • Dor localizada que aparece logo após o momento da fractura.
  • Pode notar-se alguma saliência anormal na zona da lesão.
  • Hematoma e inchaço.

Fracturas da eminência intercondilar: Dor e inchaço do joelho, pode estar associada a uma avulsão da inserção tibial do ligamento cruzado anterior, o que provoca hemartrose do joelho.
Fracturas da tuberosidade tibial: Dor na face anterior da tíbia, cerca de 3 cm abaixo da linha articular do Joelho. Em fracturas graves, o paciente pode ser incapaz de esticar o joelho.
Fracturas do prato tibial: sensibilidade na face anterior do joelho, inchaço, hemartrose e instabilidade da articulação. O paciente é incapaz de suportar o peso do corpo sobre a perna.
Fracturas de stress: Dor durante ou após a actividade física, que desaparece quando está em descanso, sensibilidade na zona da fractura e ligeiro inchaço.
Na maioria das fracturas o diagnóstico é evidente pela visível deformidade, inchaço localizado e sensibilidade na região da lesão. No entanto um raio-X deve ser sempre realizado, e este deve mostrar todo o comprimento da tíbia e do perónio, de modo a despistar lesões associadas no joelho ou no tornozelo. A cintilografia óssea e a RM são mais sensíveis para o diagnóstico de fracturas de stress, que são de difícil diagnóstico através de raio-X nas primeiras 2 a 8 semanas após a lesão.


Tratamento

No caso das fracturas estáveis, geralmente o tratamento é conservador. A perna é gessada ou é aplicada uma tala que impede o movimento da perna e mantém os topos da fractura alinhados durante o período de cicatrização. Você não será capaz de colocar qualquer peso sobre a perna até o osso estar completamente consolidado, o que pode demorar 4 a 6 semanas. A maioria das pessoas usa canadianas durante este período.
Em todos os outros tipos de fractura da tíbia ou do perónio a cirurgia reconstrutiva é o tratamento de opção. Após a cirurgia seguem-se 4 a 6 semanas de imobilização gessada ou bota protectora mais canadianas.
           Em ambos os casos, após o período de imobilização é fundamental começar um plano de tratamento em fisioterapia, de forma a recuperar de atrofias musculares e a prevenir limitações na amplitude de movimento do joelho. As técnicas que revelam maior eficácia nesta condição:
  • Exercícios para melhorar a flexibilidade, força e equilíbrio (incluindo exercícios em carga)
  • A aplicação de calor antes dos exercícios para aumentar a irrigação sanguínea e de gelo no final para prevenir sinais inflamatórios.
  • Mobilização articular passiva progredindo para activa e activa resistida.
  • Educação do paciente e plano de retorno gradual à actividade.


Exercícios terapêuticos para as fracturas da tíbia

Os seguintes exercícios são geralmente prescritos após a confirmação de que a fractura está consolidada. Deverão ser realizados 2 a 3 vezes por dia e apenas na condição de não causarem ou aumentarem os sintomas.



Flexão/extensão do pé


Deitado, com o calcanhar fora da cama, puxe a ponta do pé e dedos para si, depois empurre pé e dedos para baixo.
Repita entre 15 e 30 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.




Extensão resistida do pé
Sentado com a perna esticada e o elástico na ponta do pé. Empurre o elástico para a frente, depois deixe o pé regressar lentamente à posição inicial.
Repita entre 8 e 12 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma. 



Propriocepção do membro inferior
Em pé, apoiado na perna lesada e com esse joelho ligeiramente dobrado. Com a ponta do outro pé tente desenhar um círculo no chão, com o maior diâmetro possível e em que o pé apoiado fique no seu interior.
Repita entre 5 a 10 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.


Antes de iniciar estes exercícios você deve sempre aconselhar-se com o seu fisioterapeuta.

Harrast MA, Colonno D. Stress fractures in runners. Clin Sports Med. 2010 Jul;29(3):399-416.



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